quarta-feira, 18 de junho de 2014

Consciência e pessoa


Sidney Silveira

PESSOA não é o indivíduo dissolvido numa multiplicidade de atos mais ou menos conscientes, estanques entre si — e sim a substância espiritual possibilitante desses mesmos atos. 

No homem, quanto mais o sentido de unidade prevalece, mais decisivamente pessoais são os seus atos; a despersonalização da alma humana, em contrapartida, tem sempre como vetor a derrota do uno para o múltiplo, da paz para a agonia, da luz para a sombra. Seja como for, mesmo nas doenças mentais mais aflitivas — em que a consciência pode quase apagar-se por completo — permanece a pessoa. 

Em síntese, pessoa NÃO É a consciência: é o que subjaz aos atos conscientes. 

Esta brevíssima postagem é em resposta a leitores que me indagaram acerca da clássica definição de "pessoa" em Boécio (individua substantia rationalis naturae) e me perguntaram se ela coincide com a noção de "consciência" de algumas psicologias contemporâneas. 

Respondida a pergunta com uma cabal e definitiva negativa, acrescento:

Pessoa é a raiz metafísica da consciência. Identificar simpliciter ambas é erro para lá de primário.