domingo, 13 de abril de 2014

Justiça dos injustos: castigo dos bons


Sidney Silveira

PARA O HOMEM BOM, os bens que lhe sobrevêm são prêmios, e os males, provas de paciência, perseverança. PARA O HOMEM MAU, os males são castigo, e os bens, usurpação de um mérito que não lhes é devido. Toda noção realista de justiça consiste em dar um único vetor a esta relação: premiar os bons, castigar os maus. 

Esta é a base daquilo a que se convencionou chamar de civilização. 

Sob qualquer pretexto — seja de classe social, seja de raça, seja de ideologia, seja de preferências sexuais, etc. —, atenuar o castigo dos maus é castigar os bons; e castigar os bons acarreta a única desigualdade essencialmente injusta: a que diz respeito à distribuição de méritos e deméritos. 

As demais desigualdades podem ser boas ou más, em vista duma série de fatores.