sexta-feira, 22 de junho de 2012

Depoimento tocante

Sidney Silveira


Hoje fui às lágrimas com o email recebido de um dos nossos leitores, a quem não conheço e deu um depoimento que — nesta hora de doença e desalento — me tocou a alma. Transcrevo-o abaixo, com a autorização do remetente; apenas lhe preservo o nome.


Deus lhe pague, caro amigo! Você não sabe o bem que me fez ler a sua carta, pois tantas e tantas vezes tive o ímpeto de simplesmente parar com este trabalho pra lá de quixotesco e tão malquisto por pessoas católicas que com ele tanto se sentem incomodadas, mas nessas horas sempre tenho tido um claro sinal de que ainda não é o momento.


Que Nossa Senhora, Omnipotentia Supplex, abençoe e proteja a sua família.


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"Caro Sidney Silveira,


Escrevo-lhe depois de ter lido o último "post" do Contra Impugnantes, supondo que o que tenho a dizer, talvez, possa lhe servir de estímulo nesses tempos difíceis.


Infelizmente, meu pouco talento não me qualifica para o estudo da filosofia tomista, e, por isso, a aquisição de livros da Sétimo Selo só se justificaria na esperança de que meus filhos, ainda miúdos, venham a ter melhores dons — e disciplina — que o pai.


A boa notícia que trago é outra, e já um pouco passada. Devo-lhe um sincero agradecimento, porque você, através do prefácio que escreveu para "A Natureza do Bem", foi responsável pelo início de um longo caminho que terminou, graças a Deus, na minha conversão. Ainda estudante na UFRJ, li seu prefácio como parte do programa de um curso de Sociologia da Religião, ministrado por uma professora ocultista (que nos ensinava gnosticismo, teosofismo, antroposofia, etc.). Já não lembro se o livro foi indicado por engano, ou para debochar de Santo Agostinho, que certamente não agradava à professora. Em todo caso, o efeito em mim foi o oposto: preso ao materialismo, supondo que a religião fosse não mais que sintoma ou conseqüência da ignorância, descobri, de repente, logo onde menos esperava, um sinal de vida inteligente. E uma inteligência de sabor diferente, distinta do academicismo que me cercava; uma inteligência que me sacudia, me impelia, me obrigava a decisões — e que, hoje, sei chamar pelo nome de sabedoria. Descobri, então, que o ignorante era eu.


Suas linhas introdutórias do prefácio, sobre a necessidade do sentimento de culpa, do arrependimento, da penitência — coisas tão deploradas pelas filosofias modernas —, vieram a frutificar, mais de três anos depois, no seu devido lugar: o confessionário, com a graça de Deus, junto a um padre fiel à Tradição.


Olhando em retrospectiva, não posso deixar de lhe agradecer, por haver conseguido me libertar dos preconceitos estúpidos que eu vinha nutrindo contra a religião, desde a pré-adolescência (e, particularmente, contra a Verdadeira Religião, o Catolicismo). Dada a avalanche de propaganda anticatólica na minha formação, aliada à minha recalcitrância e ao emburrecimento derivado da vida de pecado, esteja certo de que não foi pouca façanha. Como estou certo de que este não é o primeiro testemunho de conversão que você recebe, e tampouco será o último, escrevo-lhe na esperança de que, apesar dos meus numerosos pecados e do muito que devo crescer no amor de Deus e na vida cristã, esse meu relato possa, de algum modo, incentivá-lo nas tribulações de cada dia. Afinal, seu sacrifício me valeu a conversão, o doloroso processo de retificação de uma união pecaminosa (hoje, um matrimônio), e a luz que me serve de guia na educação de meus filhos.


Que Deus lhe pague todo esse benefício".