sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Atualidade do Tomismo



Sidney Silveira
Chegará nesta semana às livrarias a obra Atualidade do Tomismo, novo lançamento da editora Sétimo Selo.

Organizado pelo Prof. Enrique Alarcón, da Universidade de Navarra, com a colaboração do meu amigo Paulo Faitanin (da UFF e do Instituto Aquinate), o livro é composto de 10 trabalhos de diferentes autores, estudiosos da obra de Santo Tomás:

1- ADRIANO OLIVA, OP, da Comissio Leonina, com o artigo A Comissão Leonina, 125 anos depois de sua fundação, se estabelece em Paris. O texto de Oliva traz — além da contextualização histórica da Edição Leonina — o atual estado da edição crítica de um trecho do Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo de Santo Tomás.

2- JOHN F. BOYLE, da University St. Thomas (St. Paul, Minnesota), editor do grande último inédito atribuído ao Aquinate (a Lectura Romana), assina o texto Comentário de Tomás de Aquino a Pedro Lombardo. Aqui, Boyle analisa a história desta importante obra e os argumentos relativos à autoria de Santo Tomás.

3- GIANCARLO BOLOGNESI, LUIGI DADDA, ADRIANO DE MAIO e TULLIO GREGORY escrevem o artigo O trabalho de Roberto Busa, SJ: espaços abertos entre a computação e a hermenêutica. Para muitos, Busa é o “pai” da informática lingüística, graças à sua análise computadorizada dos escritos de Santo Tomás de Aquino.

4- LEO ELDERS, conhecido professor tomista, com o texto A ética de Tomás de Aquino faz algumas pinceladas introdutórias ao tema do pensamento moral na obra do Aquinate.

5- ÁNGEL LUIS GONZÁLEZ, da Universidade de Navarra, assina o artigo A Metafísica Tomista: interpretações contemporâneas. González procura fazer um balanço historiográfico da metafísica tomista no século XX.

6- ENRIQUE ALARCÓN, coordenador do estupendo trabalho da Opera Omnia, com Avanços em nosso conhecimento histórico de Tomás de Aquino, realiza uma acurada síntese da historiografia tomista, em três linhas: fontes biográficas sobre a vida e a obra de Santo Tomás; autenticidade das obras; e sua cronologia.

7- DAVID BERGER, editor do Doctor Angelicus, com o texto Interpretações do tomismo através da história — como o título bem sintetiza —, tem o objetivo de traçar algumas linhas interpretativas da obra do Aquinate, ao longo dos séculos.

8- ABELARDO LOBATO, OP, assina A Pontifícia Academia de Santo Tomás de Aquino: história e missão. Lobato, presidente emérito da referida Academia (a PAST), nos conta o seu itinerário histórico-cultural, a partir de Leão XIII.

9- ENRIQUE MARTÍNEZ, secretário geral da S.I.T.A., com ‘In dulcedine societatis quaerere veritatem’: A Sociedade Internacional Tomás de Aquino, faz um balanço da história da S.I.T.A., entidade nascida no sétimo centenário de morte de Santo Tomás, em 1974 — e que teve os primeiros passos ensaiados, de acordo com Martínez, em 1979, centenário da monumental Encíclica Aeterni Patris, de Leão XIII.

10- ENRIQUE ALARCÓN e PAULO FAITANIN, ao final do livro, assinam a Bibliografia tomista contemporânea em língua portuguesa, o primeiro grande esforço de catalogar as obras de e sobre Santo Tomás em português. Ao todo, a Bibliografia faz referência a 700 obras, e se divide em: a) traduções de Santo Tomás; b) Antologias; e c) Estudos.

Atualidade do tomismo teve diferentes tradutores para o português: Daniel Nunes Pêcego, Daniel Henriques Lourenço, Paulo Alcoforado, Paulo Faitanin, Raquel de Freitas, Renato Moraes, Roberto Cajaraville e Shantal Carvalho Tarifa Reischle. A revisão geral dos textos é de Carlos Nougué.

Vale ainda destacar o seguinte: trata-se de um livro que, do ponto de vista historiográfico, traz informações relevantes para quem se interessa pelo estudo da obra de Santo Tomás. A titular do Copyright é a Fundación Tomás de Aquino, da Espanha, que cedeu à Sétimo Selo os direitos autorais desta obra coletiva para a presente edição em língua portuguesa. O prefácio da obra é do Prof. CARLOS FREDERICO GURGEL CALVET DA SILVEIRA, presidente da S.I.T.A. no Brasil, dedicado professor que há anos vem trabalhando pela difusão do pensamento tomista entre nós.

Em tempo1: Tão vasta e profunda é a obra de Santo Tomás, que é natural haver divergências de interpretação a seu respeito. Durante séculos, de Giovanni Capreolo até os tomistas contemporâneos, o tomismo foi marcado por um certo conjunto de teoremas, acerca dos quais houve acaloradíssimas discussões, que nada têm a ver com as do ambiente politicamente correto em que hoje soçobramos — pobres de nós! Eu, particularmente, tenho clara preferência pelo tomismo combativo, que não deixa de utilizar a obra do Aquinate em defesa da fé. Afinal, este era o objetivo do grande Santo, para quem a filosofia ancilla theologiae est, e a teologia, ancilla fidei est. Na subalternação entre as ciências, umas se orientam às outras, numa relação de dependência. Neste contexto, a metafísica e a teologia, para Santo Tomás, devem servir à Doutrina Sagrada, a qual parte de um princípio superior a todas as ciências humanas: a verdade revelada da fé. Esquecer isto é mutilar Santo Tomás naquilo que é principal em sua obra, dar grande importância ao meio, em detrimento do fim. Se, como editor da obra, digo que o valor de Atualidade do Tomismo dá-se, sobretudo, na perspectiva historiográfica, tome-se isto como a demarcação de um ponto de vista pessoal diferente, em relação ao de alguns de seus autores, mas que absolutamente não deslustra a obra. Ademais, como eu já disse pessoalmente a vários dos nossos tomistas, independentemente da corrente a que cada um se filia, não devemos medir esforços para difundir no Brasil a obra do Aquinate, que é um bem em si.
Em tempo2: O livro, de 245 páginas — contando com o Prefácio do Prof. Calvet da Silveira e a Introdução (assinada por Enrique Alarcón e Paulo Faitanin) —, custará R$ 44,00.